A história deste vinho ultrapassa fronteiras e está diretamente ligada à história de outros países europeus… Da França, da Holanda e mais fortemente da Inglaterra, ligada ao vinho do Porto desde que este assumiu essa designação…
Na época Medieval não há referências que permitam tirar grandes conclusões em relação ao cultivo da vinha, à produção de vinho no Douro e ao significado económico que esta atividade tinha para a região. Sabe-se porém que primeiramente o vinho desta região se designava de “Vinho de Lamego”, o que por ventura evidenciava, quer que a área cultivada não alastrava muito para além desta cidade, quer que a cidade do Porto não possuía até então o papel comercial de destaque que possuí atualmente.
Na segunda metade do século XVII, e voltando à relação histórica com os países europeus em cima referidos, ocorreram transformações decisivas que começaram a traçar a história do Vinho do Porto.
A guerra entre a França e a Holanda que iniciou em 1672, a crise dos vinhos franceses que se registava por essa altura e os atritos comerciais existentes entre França e Inglaterra (que culminaram no embargo deste último país ao mercado de vinhos franceses), fizeram voltar as atenções de Ingleses e Holandeses, especialmente dos primeiros, para o Vinho do Douro.
A primeira exportação registada de vinho para Inglaterra data de 1678, tendo sido designado o vinho exportado como “Vinho do Porto” e a região produtora “Alto Douro”. Esta última designação demonstra, segundo José Leite de Vasconcelos, a enorme influencia inglesa na economia desta região com a clara colocação de “Alto” antes de “Douro”.
Dentro de várias teorias existentes, que procuram explicar a origem do Vinho do Porto, a mais popular talvez seja a “descoberta acidental”: O tempo de ligação entre Portugal e Inglaterra era relativamente demorado na altura, e para proteger o vinho durante a longa viagem por mar era adicionada uma porção de aguardente vínica “fortificando-o” e impedindo que este se estragasse tão facilmente. Uma técnica já utilizada na altura dos descobrimentos.
Outra teoria possível coloca a famosa colheita de 1820 como reveladora de todo o potencial do vinho aqui produzido. As condições climatéricas excecionais que antecederam essa colheita colocaram a descoberto um vinho que ninguém sabia definir e todos procuravam: um vinho marcado por uma importante presença de açúcar e álcool, forte e encorpado. O Vinho do Porto.
A “fortificação” é atualmente uma ação recorrente no processo de produção do vinho do Porto, no entanto, a adição de aguardente ao vinho é efetuada antes que este termine de fermentar. As aguardentes vínicas têm um papel preponderante na elaboração do Vinho do Porto. Ao interromper a fermentação conservam o teor de açúcar e aumentam de forma substancial o teor de álcool.
Os vários tipos de Vinho do Porto
Os Vinhos do Porto podem ser divididos em duas categorias consoante o tipo de envelhecimento.
Ruby: São vinhos em que se procura suster a evolução da sua cor tinta, mais ou menos intensa, e manter o aroma frutado e vigor dos vinhos jovens. Neste tipo de vinhos, por ordem crescente de qualidade, inserem-se as categorias Ruby, Reserva, Late Bottled Vintage (LBV) e Vintage. Os vinhos das melhores categorias, principalmente o Vintage, e em menor grau o LBV, poderão ser guardados, pois envelhecem bem em garrafa. São especialmente aconselhados os LBV e os Vintage.
Tawny: Obtido por lotação de vinhos de grau de maturação variável, conduzida através do envelhecimento em cascos ou tonéis. São vinhos em que a cor apresenta evolução, devendo integrar-se nas sub-classes de cor tinto-alourado, alourado ou alourado-claro. Os aromas lembram os frutos secos e a madeira; quanto mais velho é o vinho mais estas características se acentuam. As categorias existentes são: Tawny, Tawny Reserva, Tawny com Indicação de Idade (10 anos, 20 anos, 30 anos e 40 anos) e Colheita. São vinhos de lotes de vários anos, excepto os Colheita, que se assemelham a um Tawny com Indicação de Idade com o mesmo tempo de envelhecimento. Quando são engarrafados estão prontos para serem consumidos. Aconselham-se os vinhos das categorias Tawny com Indicação de Idade e Colheita.
Os Barcos Rabelo – “Agora vai com Deus”
O Barco Rabelo é uma embarcação de fundo chato, propositadamente construída para navegar nos rápidos do Rio Douro. Rio que foi durante muitos anos a via de transporte privilegiada para o transporte das pipas de vinho provenientes das remotas quintas da região do Douro Superior e com destino ao Porto e Vila Nova de Gaia.
Até as barragens serem construídas nos anos 70, o Douro era um rio traiçoeiro profícuo em correntes rápidas e turbulentas. O trajeto entre gargantas e desfiladeiros era difícil e repleto de zonas perigosas, como por exemplo o traiçoeiro Cachão da Valeira onde se deu o famoso naufrágio que vitimou o Barão de Forrester, e durante séculos os produtores de vinho do Porto dependiam de um grupo de marinheiros altamente qualificados para transportar a carga preciosa desde o Alto Douro até às caves junto ao Atlântico.
Além de corajosos e experientes os marinheiros eram também homens de fé. Os barcos eram posicionados com grande precisão no rio e uma vez apanhados na corrente, nada mais lhes restava senão esperar e rezar que estes chegassem em segurança às águas calmas que se seguiam. Já aí, o mestre no quadrante libertava a direção do remo, tirava o seu boné e, em seguida, cruzava os braços exclamando: “Agora vai com Deus”.
D. Antónia Adelaide Ferreira – A Ferreirinha
Quando falamos em Vinho do Porto temos necessariamente que referir o nome de D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida como A Ferreirinha. Nasceu na Régua em 1811 e faleceu na mesma cidade em 1896. Foi uma mulher determinada e corajosa que triunfou num sector dominado pelos homens.
São inúmeras as histórias de perseverança e filantropia desta empreendedora do séc. XIX. Histórias a que iremos com certeza voltar num próximo artigo dedicado à Ferreirinha.
O Vinho do Porto, o Rio Douro, a Região Demarcada, todas as fantásticas personagens, todas as excecionais histórias de vida que ajudaram a esculpir esta lindíssima e fascinante Região de Portugal são matéria prima para próximos artigos. O Douro fez sem dúvida o vinho mas o vinho também fez sem qualquer dúvida o Douro. Visitem.