A Rota do Penedo dos Mouros – PR3 GVA, localizado em Arcozelo da Serra, concelho de Gouveia, apresenta um trajeto circular de 14 km, proporcionando a exploração de espaços ambientais e arqueológicos notáveis.
As pedras antigas guardam silenciosamente histórias de diferentes eras, transformadas em narrativas fantásticas pelo imaginário humano. Apesar de não ser o sítio arqueológico mais proeminente na região, o Penedo dos Mouros é reverenciado como uma memória fascinante. A rota celebra o passado da área, marcado por glórias e desafios, destacando o trabalho árduo que moldou vinhedos, olivais e cultivos, fundamentais para a economia local.
A presença de vestígios arqueológicos, como o sítio do Arrasado e lagares rupestres nas Lajes Ruivas, enriquecem a compreensão das antigas vivências. Além disso, a região, apesar da proximidade da Serra da Estrela, exibe um clima peculiarmente mediterrânico, destacando o equilíbrio entre a ação humana e o meio ambiente natural, uma raridade num mundo modernizado.
A autora Emília Matoso Sousa, faz uma descrição perfeita do trajeto, no seu blogue Caminhos Mil. Relata a sua experiência durante o percurso de uma forma muito detalhada e ilustrativa.
É na freguesia de Arcozelo da Serra, no vale da ribeira do Boco, que se desenvolve a rota do Penedo dos Mouros. Uma freguesia onde a agricultura predomina e onde ainda sobrevivem alguns rebanhos que insistem em dar o seu contributo para que a arte do queijo da Serra se mantenha.
Atravessar estas aldeias, percorrer as suas ruas e passear nos campos envolventes é, por si só, muito agradável. Mas a experiência torna-se mais enriquecedora quando, a par dos edificados, menos ou mais interessantes, destas localidades, somos presenteados com pedaços de História ou, simplesmente, com manifestações naturais surpreendentes. No caso deste trilho, o destaque vai, claramente, para o Penedo dos Mouros, um sítio de importância histórico-geológica, ou seja, uma estação arqueológica que é um conjunto monumental de penedos e afloramentos de granito que apresenta vestígios de algumas estruturas datáveis de dois períodos distintos, do Neolítico Antigo, e da Alta Idade Média (séculos IX e X). Estamos num concelho em que a Serra da Estrela é presença constante no nosso campo de visão e, por isso, o granito abunda por ali. A saída da localidade leva-nos, imediatamente, a terrenos rurais. Terrenos que se vão tornando mais ‘agrestes’ á medida que vamos subindo. A vegetação começa a ser mais rasteira, deixando à vista o material de que aquelas terras são feitas. Rocha. Granito. Ao longe, o amontoado de pequenas casinhas indica que já subimos bastante.
Chegamos ao Penedo dos Mouros. Localizado a uma altitude de 436 metros, este sítio terá sido um importante abrigo neolítico associado à transumância, mas também poderá ter sido uma estrutura defensiva, sendo visíveis marcas de recuperação medieval, bem como uma sepultura antropomórfica no topo de um dos afloramentos. Em boa verdade, há, alegadamente, todo um conjunto de marcas que passam, na sua maioria, despercebidas a olhares leigos como o meu. Degraus, sulcos, entalhes, pias, e algumas gravuras fazem parte das descobertas feitas durante as escavações realizadas por volta do ano 2000. Com base nesses e noutros achados, é possível conjeturar, de forma mais ou menos aproximada, quem ali vivia e qual o seu modo de vida. Gosto de imaginar os arqueólogos, quais brigadas da polícia científica, em busca de evidências de outras vidas. E não é que aqueles pedregulhos têm sempre histórias fascinantes para contar?
Aquele imenso conjunto de penedos graníticos impressiona pela sua dimensão e leva-nos a pensar nos muitos milhares ou milhões de anos que são necessários para a natureza os esculpir. Perdemos ali algum tempo, por um lado, a maravilhar-nos com aquele espetáculo visual, obra dos caprichos da natureza, por outro, à procura de vestígios do passado, os tais entalhes e as tais gravuras… Com um pouco de boa vontade, lá encontrámos uns ‘risquinhos suspeitos’, mas não mais do que isso. Cada qual é para o que nasce e nós, pelo visto, não nascemos para arqueólogos. Mas que é um lugar que convida a demorar, lá isso é. Este é, sem dúvida, o ponto alto do trilho, mas ainda há mais para ver.
Por exemplo, vale a pena fazer uma visita às ‘instalações’ do restaurante local, o Ponte dos Cavaleiros, que tem a particularidade de estar implantado num antigo lagar de azeite, por sinal, muito bem recuperado. Um forno comunitário apetrechado com as respetivas ferramentas de trabalho também faz parte do ‘complexo’, o qual inclui, ainda, uma queijaria de onde continuam a sair os belos queijos da Serra. Um pequeno passadiço, sobre um curso de água e uma cascata, contorna todo o espaço e faz daquele conjunto um local muito pitoresco.
Através de uma bonita paisagem rural, continuamos a caminhar, até atingirmos a localidade, cujas caraterísticas são as que se esperam de uma típica aldeia beirã, e onde os habitantes se dedicam, em grande parte, a atividades agrícolas. Entre o seu casario, chamou-nos a atenção uma pequena capela, a de Santo António, de traços estranhamente modernos para aquele contexto. Um apontamento bastante curioso!
Entre os campos de cultivo, onde sobressaem os vinhedos e os olivais, e zonas florestais, vamos avançando. Uma imagem da Senhora de Fátima marca presença ‘nas alturas’, sendo visível de alguns pontos do trajeto, por se encontrar no topo de um enorme penedo. Trata-se, na verdade, de uma espécie de santuário dedicado à Nossa Senhora. A religiosidade é uma presença constante nas terras beirãs.
Este foi mais um trilho que nos permitiu viajar a tempos longínquos da nossa História e que proporcionou mais alguns elementos que nos ajudam a entender o mundo em que vivemos. Com um pouco de imaginação à mistura, claro!
Agradecemos à autora Emília Matoso Sousa, por gentilmente nos ter autorizado a partilhar esta sua experiência pela Rota do Penedo dos Mouros. O blogue Caminhos Mil é rico em conteúdo. Descreve experiências por diversos trilhos em Portugal e noutros países. Aconselhamos vivamente que passe por lá.