A data, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, é comemorada a uma escala mundial desde 1975, ano em que foi pela primeira vez celebrado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Mais do que um “festejo”, passa a ser um marco naquilo que foi e continua a ser, a luta diária das mulheres, contra o preconceito e a desvalorização do sexo feminino.
Portugal é um país profícuo em mulheres empreendedoras e “à frente do seu tempo”. Fica aqui uma pequena homenagem, ao Dia Internacional da Mulher e a todas as mulheres portuguesas, destacando algumas que se destacaram pelo papel que tiveram na sociedade portuguesa.
Dona Antónia Adelaide Ferreira (Ferreirinha)
Dona Antónia Adelaide Ferreira, ou Ferreirinha como é popularmente conhecida, foi uma das grandes personalidades do século XIX. Nasceu a 4 de Julho de 1811 na freguesia de Godim, Peso da Régua. Lugar onde viria a falecer a 26 de Março de 1896.
Ficou conhecida por se dedicar ao cultivo do vinho, numa época em que a atividade era dominada exclusivamente por homens. O seu nome está diretamente relacionado com o Vinho do Porto, quer pelas inovações notáveis que introduziu, quer pela forma como administrou as suas quintas e investiu na região do Douro.
Proveniente de uma família abastada, viu parte da sua fortuna esbanjada pelo primeiro marido, um primo com quem o seu pai, José Bernardo Ferreira, a casou.
Foi uma mulher extraordinária, um exemplo de empreendedorismo e perseverança. Enfrentou os ingleses, então dominadores do vinho do Porto, recusou títulos e prebendas da Corte, enfrentou várias pragas naturais que devastaram as suas vinhas, construiu e melhorou dezenas de quintas, entregou-se à nobre causa de ajudar os mais pobres.
Carolina Beatriz Ângelo
É natural da freguesia de São Vicente, Guarda, onde nasceu a 16 de Abril de 1878.
Frequentou o curso do liceu na cidade da Guarda e veio a ingressar em medicina, terminando o Curso na Escola Médica de Lisboa no ano de 1902.
Enquanto médica, destaca-se o facto de ter sido a primeira mulher a operar no Hospital de São José, em Lisboa.
Dedicou uma boa parte da sua vida à luta pela emancipação e pelos direitos da mulher.
Desempenhou o cargo de Presidente da Associação de Propaganda Feminista e Vice-Presidente da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas.
A 5 de Outubro de 1910, dá-se a Proclamação da República. Carolina Beatriz Ângelo, juntamente com Adelaide Cabete, foi responsável pela confecção das bandeiras vermelhas e verdes, simbolizando a Revolução bem sucedida.
Fundou, juntamente com Ana de Castro Osório, a Associação de Propaganda Feminista.
Foi a primeira mulher Portuguesa a votar exercendo tal direito nas eleições constituintes de 28 de Maio de 1911, facto que mereceu a cobertura de jornais de toda a Europa, admirados pela coragem desta mulher e pelo aparente rumo progressista da recém-criada República Portuguesa.
Para tal, invocou a sua condição de chefe de família, após o óbito de seu marido Januário Barreto, vindo assim a obter a concessão do direito de voto por sentença do Juiz de Direito Dr. João Baptista de Castro.
«Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo Partido Republicano. (…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral».
Beatriz Ângelo foi sem dúvida uma mulher marcante na história portuguesa, com um percurso interrompido pela morte prematura.
Morreu aos 33 anos, em 3 de Outubro de 1911.
Mumadona Dias
Condessa de Portugal no século X, durante o primeiro Condado Portucalense, é filha de Diogo Fernandes e da condessa Onega Lucides, tia do rei Ramiro II de Leão e neta de Vímara Peres.
Famosa, rica e uma das mulheres mais poderosas no Noroeste da Península Ibérica, Mumadona Dias é reconhecida em várias cidades portuguesas devido à sua atividade.
Casada com o conde Hermenegildo Gonçalves, governa o Condado sozinha após a morte do esposo (c. 928), deixando-a com a posse de domínios que, posteriormente, integrariam os condados de Portucale e Coimbra.
Em 950 os domínios são divididos pelos seus filhos, ficando o condado Portucalense para Gonçalo Mendes. É nesta altura que funda, na herdade de Vimaranes, um mosteiro, sob a invocação de São Mamede, e determina a construção de um castelo para sua proteção. Trata-se do Castelo de Guimarães, mais tarde a corte dos condes de Portucale, que serve para proteção contra as invasões normandas.
In www.rotadoromanico.com
Florbela Espanca
Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894, sendo batizada, com o nome de Flor Bela Lobo, a 20 de Junho do ano seguinte.
É em Vila Viçosa que se desenrola a sua infância. Em Outubro de 1899, Florbela começa a frequentar o ensino pré-primário, passando a assinar Flor d’Alma da Conceição Espanca (algumas vezes, opta por Flor, e outras, por Bela).
Em Novembro de 1903, aos sete anos de idade, Florbela escreve a sua primeira poesia de que há conhecimento, «A Vida e a Morte», mostrando uma admirável precocidade e anunciando, desde já, a opção por temas que, mais tarde, virá a abordar de forma mais complexa.
Autora polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e epístolas; traduziu vários romances e colaborou ao longo da sua vida em revistas e jornais de diversa índole, Florbela Espanca antes de tudo é poetisa. É à sua poesia, quase sempre em forma de soneto, que ela deve a fama e o reconhecimento.
A temática abordada é principalmente amorosa. O que preocupa mais a autora é o amor e os ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte. A sua obra abrange também poemas de sentido patriótico, inclusive alguns em que é visível o seu patriotismo local: o soneto “No meu Alentejo” é uma glorificação da terra natal da autora.
A 8 de Dezembro, dia do nascimento e do primeiro casamento, Florbela suicida-se, cerca das duas horas, com dois frascos de Veronal.
Amália Rodrigues
Amália da Piedade Rodrigues nasceu numa família pobre, que, oriunda da Beira Baixa, tentava a sorte na capital.
No registo de nascimento consta a data de 23 de Julho de 1920, porém, dado existirem algumas reservas quanto ao dia exacto, a artista adotou o dia 1 de Julho como data de aniversário durante toda a sua vida.
Após o seu nascimento e depois de um curto período na capital à procura de vida melhor, os pais regressaram ao Fundão deixando a filha, então com catorze meses, ao cuidado dos avós.
“Dizia-me a minha família que aos 4 anos já ganhava a vida a cantar, pelas vizinhas que diziam, “ó Amália anda cá, canta lá esta”. E eu cantava…”
Faleceu no dia 6 de Outubro de 1999. O seu funeral constituiu uma grande e sentida manifestação de dor e saudade como nunca antes se vira. O país inteiro chorou a sua Diva do Fado. Os seus restos mortais foram transladados do Cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional a 8 de Julho de 2001.
Amália Rodrigues é uma figura incontornável da História do Fado.
Várias outras mulheres portuguesas, de grande importância, não são referenciadas neste artigo.
Todas elas devem ser recordadas não só nas comemorações do Dia Internacional da Mulher como em todos os dias.