O Mosteiro de Seiça, ou de Santa Maria de Seiça, é um dos edifícios mais místicos de Portugal. Atualmente encontra-se em ruínas num estado avançado mesmo depois de ter sido considerado em 2002 Imóvel de Interesse Público e em 2004 ter sido adquirido pela Câmara Municipal da Figueira da Foz.
Ao longo dos tempos o edifício foi sofrendo alterações pouco dignas da beleza que ostenta. Em 1871 foi parcialmente demolido e a pedra utilizada para obras num cemitério em Paião. Em 1888 sofreu novamente obras de demolição, desta feita por causa da construção do troço de caminho de ferro da Linha do Oeste. Por volta de 1900 foi vendido a particulares que o transformaram numa unidade industrial de descasque de arroz…
O Mosteiro de Seiça está fundado na freguesia de Paião, na Figueira da Foz.
Seiça e a lenda do abade João
A história de Seiça cruza-se com a lenda do abade João. Reza a lenda que este abade, responsável pela defesa do castelo de Montemor-o-Velho, se viu cercado pelos Mouros… Entre eles estava um tal de Garcia Janhes, que fora criado pelo Abade João , e que se passou para o lado dos Mouros depois de renegar a fé Cristã e de assumir o nome de Zulema.
Zulema tornou-se um dos mais odiados inimigos dos cristãos, e como era um conhecedor da região e do castelo aconselhou o exército mouro sobre a melhor forma de fazer o cerco, cortando todas as relações entre a fortaleza e o exterior.
A luta terá sido desesperante para a fração Cristã… em menor número e sem mantimentos, vendo-se numa situação insustentável, tomaram algumas medidas drásticas e decidiram fazer sacrifícios que retratam bem quer a abnegação e coragem dos cristão, quer a barbárie e carnificina daqueles tempos em que a vida humana valia tão pouco.
Decidiram então queimar tudo quanto tinham para que não caísse nas mãos dos inimigos, e levando o desespero mais além, decidiram degolar homens e mulheres que pela sua idade ou condição não se pudessem defender do inimigo. O abade João terá dado o mote e ele próprio terá degolado a sua irmã D. Urraca.
Depois de consumada a carnificina saíram os sitiados do castelo e deram luta aos Mouros. Sem nada a perder e sem esperança na vitória, terá sido o Abade João o mais valente… devastando tudo o que encontrava à sua frente, infligindo grandes estragos ao mais numeroso exercito inimigo e simultaneamente dando moral aos seus para que o seguissem na demanda.
Uma das primeiras vitimas do vigor do braço do Abade João foi Zulema, o ingrato pupilo. Esta morte terá desmoralizado as tropas mouras e por outro lado terá dado um animo extra os cristãos que cresciam destemidos fazendo com que os infiéis sobreviventes fugissem desordenadamente e procurassem refugio nas brenhas da outra margem do Mondego.
De nada valia aos mouros esconderem-se… os cristãos continuaram a perseguir e a matar sem qualquer piedade todo e qualquer infiel que encontrassem…
O cansaço era já muito e os poucos mouros sobrevivente tinham-se refugiado nas Alcoubas, distantes quatro léguas do campo da primeira batalha… ouviu-se então a voz do Abade João:
– Cessa, Cessa.
Os Cristãos obedeceram e descansaram da enorme luta nesta planície rodeada de montes. Passaram ali a noite e na madrugada do dia seguinte, chegaram à planície mensageiros provenientes de Montemor-o-Velho que traziam a boa nova… os desgraçados que no dia anterior tinham sido degolados afinal estavam vivos e de boa saúde. A noticia foi recebida com enorme alegria e logo o acontecimento foi tomado como milagre.
O abade João decidiu então renunciar a Montemor-o-Velho e passar ali naquela planície o resto dos seus dias, sendo seguido por alguns dos seus companheiros. Por volta de 850 mandou edificar ali uma capela que dedicou à Virgem.
Dessa ermida, que ruiu em 1590, nada resta. Em 1602, no mesmo lugar e por iniciativa de Frei Manuel das Chagas, foi construída a actual capela de Nossa Senhora de Seiça.
A poucos metros de distância desta capela encontra-se o Mosteiro de Santa Maria de Seiça, do qual se desconhece a data exata de fundação e cuja referência documental mais antiga data de 1162, pertencendo então aos Frades Crúzios.
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