A tradição diz que “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”. O Dia de São Martinho é uma festa litúrgica celebrada de diferentes formas um pouco por todo o país, no dia 11 de Novembro.
Apesar das diferenças que possam surgir, há alguns pontos em comum nas celebrações do dia de São Martinho, ao longo do território nacional, como por exemplo, as castanhas assadas, a prova do vinho novo e os magustos.
O Magusto não é mais do que uma reunião de amigos e famílias à volta do fogo onde se assam castanhas. Para acompanhar bebe-se a jeropiga, água-pé ou vinho novo.
Segundo alguns autores, a realização dos magustos remonta a uma antiga tradição de comemoração do Dia de Todos os Santos, celebrado a 1 de novembro.
Habitualmente, nessa data, assinalavam-se os finados ao redor de uma fogueira e de uma mesa onde não faltavam as castanhas.
Quem foi São Martinho?
São Martinho de Tours, filho de um Tribuno e soldado do exército romano, nasceu e cresceu na cidade de Sabaria, na antiga província da Panónia, atual Hungria.
Nasceu por volta de 316, e foi educado na religião politeísta dos seus antepassados, com crenças em deuses mitológicos venerados no Império Romano. Ignora-se a data exata do seu nascimento, que alguns apontam não para 316 mas para 317 ou até 326.
Muito cedo teve contacto com a doutrina Cristã, tendo entrado em 326, por volta dos 10 anos de idade, para o grupo dos catecúmenos, aqueles que se preparam para receber o batismo.
A vida militar
Muito jovem ainda, com cerca de 15 anos de idade, por vontade do pai e contra a sua própria vontade, ingressou no exército romano e posteriormente seguiu para a Gália, região na atual França.
O milagre e o verão de São Martinho
Terá sido nessa época, por volta de 337, que ocorreu o famoso episódio do manto, quando fazia parte da guarnição de Amiens, que alimenta a Lenda de São Martinho: Um dia, debaixo de uma tempestade, encontrou um mendigo cheio de frio que lhe pediu esmola. Como não tinha nada para oferecer, Martinho cortou parte das sua capa com a espada e deu-a ao pedinte.
Nesse momento, e pela bondade de Martinho, a tempestade cessou e o sol raiou. Esse ato ficou conhecido como o milagre de São Martinho! E por esse motivo, quando o tempo aquece no outono, os portugueses apressam-se a chamar esses dias de verão de São Martinho em Portugal.
Por volta dos 20 anos, comunicou aos seus superiores que não continuaria a lutar, seguindo a sua consciência cristã. Recusou o pagamento antes de uma batalha e anunciou que não iria combater. Tornou-se assim o primeiro objetor de consciência reconhecido na história.
Tudo isto aconteceu antes de uma batalha perto da cidade alemã de Worms. Foi acusado pelos seus superiores de covardia e recebeu ordem de prisão. Como prova da sua sinceridade propôs-se a entrar na batalha desarmado. Essa proposta foi considerada uma alternativa aceitável à prisão, no entanto, antes que a batalha ocorresse, o exército inimigo concordou com uma trégua e evitou o conflito. Martinho foi posteriormente libertado do serviço militar.
A vida religiosa
Fora do serviço militar, pode dedicar-se totalmente ao serviço de Jesus Cristo e da Igreja. Viajou para Tours, onde por volta de 338, com cerca de vinte e dois anos de idade, foi batizado. Fica a dúvida se o sacerdote que o batizou terá sido Hilário de Poitiers, o bispo da cidade de Pictavium, atual Poitiers, ou o bispo de Samarobriva ou Ambiano, atual Amiens, cidade perto da qual ocorreu o episódio do repartir do manto com um mendigo.
Em Toura estudou com Hilary of Poitiers até este ter sido obrigado a exilar-se por recusar a participação em disputas políticas.
A jornada por Itália
Entretanto Martinho viajou para a Itália e da sua passagem surgiram vários relatos que atestavam a sua fé e dedicação à igreja. Segundo um relato, Martinho terá sido abordado por um ladrão de estradas e o terá convencido a ter fé em Jesus Cristo. Um outro relato fala do seu confronto com o diabo.
Durante a jornada por Itália teve uma visão que o levou a voltar para sua mãe na Panônia com o propósito de a converter ao cristianismo . De acordo com esse relato terá também tentado converter o pai mas este terá recusado.
Ainda na sua luta contra a heresia crescente terá sido obrigado pelos lideres arianos a refugiar-se numa ilha no Adriático, onde viveu como eremita por algum tempo.
O Regresso de Hilário de Poitiers e o Mosteiro
Por volta de 361, Hilário de Poitiers, retornou a Tours do exílio temporário. Martinho juntou-se a ele para trabalhar e continuar os seus estudos. Hilário de Poitiers terá dado a Martinho uma pequena concessão de terra onde ele e os seus discípulos passaram a morar.
Ainda por volta de 361 Martinho estabeleceu um mosteiro que seria habitado pelos Beneditinos.
Fundada em 361, a Abadia de Liguge foi destruída durante a Revolução Francesa, e só restabelecida em 1853 onde permanece até hoje. Neste lugar terá levado inúmeras pessoas à fé Cristã.
Posteriormente, em 371, a cidade de Tours precisava de um novo bispo e o povo aclamou-o para o cargo.
Há aliás uma história, que revela que ele não queria tamanha responsabilidade, mas a persistência do povo, e alguns truques para o convencer, fizeram com que acabasse por ceder e fosse ordenado Bispo de Tours.
O falecimento
Martinho morreu em Candes-Saint-Martin, Gália em 397.
Sulpício Severo na sua Vita S. Martini, Gregório de Tours nos quatro livros De virtutibus S. Martini e, finalmente, Tiago de Voragine na sua Legenda aurea, contaram a vida lendária de São Martinho, Apóstolo das Gálias e bispo de Tours.
Vários milagres foram atribuídos a São Martinho durante a sua vida. A veneração de São Martinho tornou-se popular na Idade Média.
São Martinho é o patrono dos pobres, soldados, objetores de consciência, alfaiates e enólogos. Comemora-se o dia de São Martinho a 11 de novembro, data em que foi sepultado na cidade de Tours.